Anete Maria Francisco*

Olhares
Que tocam
Que falam
Que eternizam.
Vejo meus olhos
Nos seus olhos!

É assim, nesse primeiro olhar que o bebê começa seu desenvolvimento psíquico. Como nos diz Winnicott (1971), para que este pequeno ser possa nascer psiquicamente e possa “se ver” precisa primeiro “ser visto”.

E é a mãe que oferece esse primeiro olhar ao seu bebê. Não apenas vê-lo como ao chegar em seus braços pela primeira vez: “que lindo você é meu filho!”, mas um olhar que embala, que aconchega, que supre suas necessidades.

Chegastes tão pequenino
Nesse mundo imenso
Buscando alegria e peito
Para um dia crescer
E correr o mundo!

A mãe é o primeiro vínculo do bebê com o mundo externo. É essa relação da mãe com seu bebê, esse primeiro vínculo, que possibilita que ele vivencie novas relações ao longo de seu caminhar na vida,    de um estágio de dependência absoluta, passando pela dependência relativa rumo a uma independência relativa. Relativa porque é na relação com o outro que nos constituímos como sujeitos que somos.

Para que isso ocorra é fundamental um ambiente facilitador que permita a esse bebê amadurecer e se desenvolver.

A mãe “suficientemente boa” é aquela capaz de reconhecer e atender as necessidades de seu bebê em tal estado de identificação com ele que experimenta uma devoção ímpar.

O bebê necessita desses primeiros cuidados intensivos devido ao seu estado de dependência absoluta e é afetado pelo tipo de cuidado que recebe ao ser acariciado, ao ser trocado, ao ser amamentado, ao ser limpo, ao ser visto. Essa é a capacidade da mãe de “sonhar” o “sonho” de seu bebê, segundo Bion (1962), captando o que se passa com ele mais pela intuição do que pelos sentidos.

Um choro pode ser apenas fome, mas pode ser um pedido para ser visto, para ser embalado. Ter a capacidade e a tolerância para aguentar este estado inicial com seu bebê, faz a mãe “suficientemente boa” criar este ambiente facilitador que consiga dar contorno e amparo para o bebê.

Ao embalar, ao amamentar, ao cuidar do bebê, a mãe o ampara e o protege, pode ir “contendo” aquele pequenino ser para que ele possa vir a ser no mundo.

Um olhar de ternura
Um olhar de medo
Um olhar de “vou dar conta?”
Um olhar de persistência
A procura de novos caminhos…
Um olhar que acalma
Um olhar que cuida
Um olhar que tolera
Um olhar que vê o outro.

Referências:
Bion, W. (1962). O aprender com a experiência. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
Dias, E. O. (2017). A teoria do amadurecimento de D.W. Winnicott. 4ª edição, São Paulo: DWW Editorial.

Haudenschild, T. R. L. (2015). O primeiro olhar. Desenvolvimento psíquico inicial, déficit e autismo. São Paulo: Escuta.

Winnicott, S. W. (1971). O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil. In: O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

Anete Maria Francisco / CRP 06/129513

Psicóloga pela Unimar
Formação em Psicoterapia Psicanalítica pelo NPMR
Membro agregado do NPMR
Auxiliar do Serviço de Orientação e Encaminhamento do NPMR

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