A mulher desde os primórdios, enfrenta grandes desafios na direção do pertencimento. Ela desde sempre, luta pela igualdade de seus direitos. Ainda encontramos certos preconceitos, limitações, sarcasmos e ironias, desrespeito e abusos em nosso percurso. Somos mulheres continentes e temos um continente fertilizando o universo. Como diz, Milton Nascimento. “Os sonhos não envelhecem, em meio a tantos gases lacrimogênios”.

A mulher sonha, mesmo limitada, sonha. Ela é incansável. Ela espera, pacientemente. E seus sonhos são intermináveis. Lugares impossíveis, continentes pertencentes somente aos homens, hoje, lá estão as mulheres. Sua competência é infinita. Somos instigantes, sensuais, enigmáticas e incansáveis. Freud (1856-1939) refere-se às mulheres, em seus diversos textos. Em “Tabu da Virgindade” (1917), fez um interessante e rico estudo sobre as peculiaridades da vida sexual da mulher, levando em consideração desde os povos primitivos até a vida civilizada. Ele indaga, “Quem é o primeiro a satisfazer a ânsia de amor – trabalhosamente contida por largo tempo – de uma donzela, superando as resistências que nela se formaram por influência do meio e da educação, torna-se aquele com o qual ela forma uma relação duradoura, não mais possível para nenhum outro”. “A mulher é todo tabu”, diz ele. “Só não é tabu nas situações especiais que decorrem de sua vida sexual, na menstruação, na gravidez, no parto e puerpério; também fora delas o trato com a mulher está sujeito a tão sérias e numerosas limitações, que temos toda razão em duvidar da suposta liberdade sexual dos selvagens”, complementa. “Ali onde o primitivo ergueu um tabu,é porque teme o perigo…”,diz Freud.

Em “A questão da análise leiga”, Freud (1926/2006), enfatiza que, sabemos menos acerca da vida sexual das meninas do que dos meninos. Mas não é preciso envergonharmo-nos dessa distinção; afinal de contas, a vida sexual das mulheres adultas é um “continente negro” (Dark continente). Penso que esse “continente negro” a que S.Freud refere faz muito sentido, pela capacidade que a mulher tem, de reconhecer em si mesmo, continentes ainda por ser visitado, revisitado, conquistado e completamente desconhecido. A contemporaneidade ilustra, juntamente com a Psicanálise, que o feminino, gradativamente, desbrava esse “continente negro”. Acredito que a mulher junto com o homem na sua completude, poderão conquistar espaços ainda pugnando por nascer. Em nome do amor, tudo podemos. À todas as mulheres, um feliz dia e com muitos sonhos.

Maria Angelica Amoriello Bongiovani – Psicanalista, escritora, Membro Efetivo na SBPSP, Membro e docente do GEP de Marilia e Região.