Aos membros do NPMR e à comunidade em geral,
Encaminhamos a todos Nota da FEBRAPSI, que recebemos da Soc. Bras. de Psicanálise de SP (SBPSP), de Repúdio e Pesar aos terríveis acontecimentos, ocorridos na semana passada no Rio de Janeiro, e que consternam e entristecem todos nós.
Cibele de Baptista Brandão.
Presidente do NPMR
————————————————————————————————————————————————————–
Oficialmente, em 22 de abril de 1500 o Brasil foi descoberto. Nas leituras mais modernas se diz que fora invadido, pois como é sabido, havia por aqui uma população com organização social e cultural muito bem estabelecidas; foram capturados, mortos ou escravizados. Uma vez que a exploração progredia no território e os indígenas restantes eram poucos para a mão de obra, toma-se a decisão de expansão através do tráfico negreiro. O continente africano, já desenvolvido em suas tecnologias e organização política, mas frágil em sua defesa, começa a ser terreno fácil e “reservatório humano apropriado, com um mínimo de gastos e de riscos. Assim, o tráfico moderno dos escravizados negros tornou-se uma necessidade econômica […]. Em novas relações técnicas estendem ao plano social o binômio senhor-escravo” (Kabengele Munanga, 2020). Preâmbulo um tanto longo para a manifestação de repúdio contra o bárbaro assassinato do congolês Moïse Kabagambe e, logo em seguida, de Durval Teófilo Filho. Ambos tombaram mortos, um espancado covarde e selvagemente por três homens, tendo os pés e as mãos amarrados como faziam os colonizadores com os homens africanos escravizados; o outro, assassinado por um vizinho que o confundiu com um bandido. O que há em comum entre estes dois crimes e entre as centenas de assassinatos de jovens negros que morrem todos os dias? O Racismo Estrutural − herança maldita do Brasil colonial. A Federação Brasileira de Psicanálise se une a inúmeras instituições da sociedade civil para manifestar sua profunda indignação diante de acontecimentos cotidianos que dizimam famílias, destroem futuros e que deixam um rastro de vazio, luto e tristeza em uma população que assiste, aterrorizada, aos atos movidos pela compulsão a repetição e, que atualizam sistematicamente a construção de relações baseadas na hierarquização dos corpos e das vidas de nossos cidadãos. O passado se faz presente e se repete de maneira mortífera na falta de elaboração de nossas relações fundantes e sombrias. Aos familiares e amigos do jovem Moïse e de Durval, em nome da comunidade psicanalítica, nossos mais sinceros sentimentos. Entristece-nos e envergonha-nos que estes crimes perdurem através dos tempos sem justiça ou reparação. Rio de Janeiro, 7 de fevereiro de 2022 |
Cibele Di Battista Brandão
Psicanalista – Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), membro do Núcleo de Psicanálise de Marília e Região (NPMR) e docente dessas instituições. Atualmente é Secretária Geral do Instituto Durval Marcondes da da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.